ESCOLA ESTADUAL DE ENSINO MÉDIO CILON ROSA
Componente Curricular: FILOSOFIA TERCEIRO ANO.
3ª série Professor : Paulo Vinícius N. Coelho
E-mail professor: paulo-vcoelho@educar.rs.gov.br
Etapa: 2
ATIVIDADE: Leia o texto abaixo (em anexo), apresente os principais pontos e responda:
- O que é Determinismo?
(Use esta folha para realizar a tarefa e guarde o texto de referência com você. Envie a tarefa para o e-mail do professor até a data determinada pela escola, em anexo nos formatos PDF ou “.doc” Word ou “.docx” Libre Office). Será avaliada sua capacidade de argumentação e coerência no texto.
DETERMINISMO (D.):
Esse termo relativamente recente (Kant é um dos primeiros a empregá-lo em Religion, I, Obs. ger., nota) compreende dois significados: l-ação condicionante ou necessitante de uma causa ou de um grupo de causas; 2- a doutrina que reconhece a universalidade do princípio causal e portanto admite também a determinação necessária das ações humanas a partir de seus motivos. No primeiro sentido, fala-se, p. ex., de "D. das leis", "D. sociais", etc, para indicar conexões de natureza causal ou condicional. No segundo sentido, fala-se da disputa entre D. e indeterminismo, entre quem admite e quem nega a necessitação causal no mundo em geral e, em particular, no homem. O estudo
dos problemas referentes ao primeiro significado de Determinismo deve ser visto nos verbetes CAUSA, CONDIÇÃO e NECESSIDADE. No segundo a palavra D. foi utilizada para designar o reconhecimento e o alcance universal da necessidade causal, que constitui uma ordem racional, mas não finalista, e portanto não se presta a ser designada pelo velho nome de destino (v.). O D. vincula-se, por isso, ao mecanicismo, que é a tendência dominante da ciência do séc. XIX, assim como da filosofia correspondente a essa fase da ciência. D. é a crença na extensão universal do mecanicismo, ou seja, na extensão do mecanicismo ao homem. Como Kant já viu (na nota citada), o D. autêntico é na verdade um pré-determinismo, a crença de que o motivo determinante da ação humana está no momento precedente, de tal modo que não está em poder do homem no momento em que se efetua. O D., enquanto mecanicismo, é na realidade predeterminação da ação em seus antecedentes.
A partir da segunda metade do séc. XVIII, a polêmica entre D. e indeterminismo deu-se entre os filósofos da ciência, por um lado, e os filósofos da consciência, por outro, parecendo que a ciência não podia deixar de reconhecer a validade do princípio de causa (v. CAUSALIDADE) e que, por outro lado, a consciência era teste- munho irrefutável da liberdade do homem (v. INDETERMINISMO). Uma das primeiras dissertações de Kant, Novos esclarecimentos sobre os primeiros princípios do conhecimento metafísico (1755), destinada a defender a dimensão universal do princípio de causalidade, pode ser considerada uma das primeiras defesas do D.
(cf. especialmente Prop. IX, Confutatio dubiorum). Mas talvez muito mais eficaz tenha sido a defesa feita por Priestley no segundo volume de suas Inquirições sobre a matéria e sobre o espírito (1777), intitulado Doutrina da necessidade filosófica. Nessa obra, Priestley afirmava claramente que os motivos influenciam a vontade com a mesma certeza e necessidade com que a força da gravidade age sobre uma pedra, e que, embora o homem freqüentemente se censure por não ter agido de outro modo, o exame de sua conduta demonstra que isso era impossível e que ele só poderia ter agido daquele modo {The Doctríne of Phílosophical Necessity, 2 a ed., 1782, pp. 37, 90 ss.).
Essas são teses repetidas com freqüência na filosofia positivista do séc. XIX. O D. científico foi formulado de modo clássico por Claude Bernard, em sua Introdução ao estudo da medicina experimental (1865). "O princípio absoluto das ciências experimentais", dizia ele, "é um D. necessário e consiste nas condições dos fenômenos. Se um fenômeno natural qualquer é dado, um experimentador nunca poderá admitir que houve uma variação na expressão do fenômeno sem que, ao mesmo tempo, tenham sobrevindo condições novas em sua manifestação. Além disso, ele tem certeza apriori de que essas variações são determinadas por relações rigorosas e matemáticas. A experiência mostra-nos apenas a forma dos fenômenos, mas a relação de um fenômeno com uma causa determinada é necessária e independente da experiência, é forçosamente matemática e ab- soluta. Nós chegamos assim a ver que o princípio do criterium das ciências experimentais no fundo é idêntico ao das ciências matemáticas porque, de um lado e de outro, esse princípio é expresso por uma relação de causalida- de necessária e absoluta" (Jntroduction à 1'étude de Ia médecine expérimentale, I, 2, 7). Explicitamente, Bernard estendia esse princípio também aos seres vivos {Ibid., II, 1, 5), e as próprias palavras com que se exprimia mostram,de um lado, o caráter de axioma racional (mais que de exigência empírica) que ele via no prin- cípio do "D. absoluto", e, de outro lado, o rigor com que esse princípio era aplicado ao campo da pesquisa experimental. Entretanto, foram precisamente os progressos experimentais da ciência — em particular os da ciência experimental mais adiantada e amadurecida, a física — que levaram a abandonar aquilo que Claude Bernard chamava de "princípio do criterium experimental". Primeiro a teoria da relativade e depois a mecânica quântica puseram em crise a noção de causalidade necessária e, por conseguinte, a de "Determinismo absoluto". Em 1930, Heisenberg, descobridor do princípio de indeterminação (v.) e um dos fundadores da moderna física quântica, escrevia: "O conceito de universo que deriva da experiência quotidiana foi abandonado pela primeira vez na teoria da relatividade de Einstein. Por ela, vê-se que os conceitos usuais só podem ser aplicados a acontecimentos nos quais a velocidacie de propagação da luz pode ser considerada praticamente infinita... As experiências com o mundo atômico obrigam-nos a uma renúncia ainda mais profunda dos conceitos até agora habi- tuais. Com efeito, nossa descrição usual da natureza e, em especial, a idéia de causalidade rigorosa nos eventos da natureza repousam na admissão de que é possível observar um fenômeno sem influenciá-lo de modo perceptível... Na física atômica, porém, a cada observação geralmente está ligada uma perturbação finita e até certo ponto incontrolável, o que era de se esperar desde o princípio na física das menores unidades existentes. Como, por outro lado, toda descrição espácio-temporal de um evento físico está ligada à observação do evento, segue-se que a descrição espácio-temporal dos eventos e a lei causai clássica representam dois aspectos causais que se excluem mutuamente nos acontecimentos físicos" (Diephysikalischen Prinzipíen der Quantentheorie, 1930, IV, § 3).
Quase ao mesmo tempo, Max Planck, descobridor do quantum de ação, escrevia que, para poder salvar a hipótese do D. rigoroso, era necessário pensar num Espírito Ideal, capaz de abranger todos os processos físicos que se de- senvolvem simultaneamente e, portanto, de predizer com certeza e em todos os detalhes qualquer processo físico. Naturalmente, do ponto de vista de um espírito desses, o princípio de indeterminação, do fato de o homem precisar intervir nos processos naturais para poder observá-los, não valeria, visto ser ele, por hipótese, independente da natureza (Der Kausalbegriff in der Physik, 1932, pp. 24-25). Mas essa hipótese, como é óbvio, não tem nenhum fundamento científico ou filosófico. De Broglie, outro protagonista da física contempo- rânea, afirmava que os argumentos de Von Neumann (v. CAUSALIDADE) provaram que: "As leis de probabilidade enunciadas pela mecânica ondulatória e quântica sobre os fenômenos elementares, leis bem provadas pela experiência, não têm a forma que deveriam ter se fossem devidas à nossa ignorância dos valores exatos de certas variáveis ocultas. O único caminho que ainda estava aberto ao restabelecimento do D. em escala atômica parece, portanto, fechar-se diante de nós" (Physique et Microphysique, X; trad. it., p. 209). Desse modo, o abandono da causalidade necessária e da doutrina do D. absoluto, que transformara a causalidade necessária em princípio universal do conhecimento científico, parece sancionado pelas maiores autoridades científicas do nosso tempo. Todavia, esse abandono não é, automaticamente, a aceitação do indeterminismo, ou seja, do reconhecimento do acaso e do arbítrio absoluto nos fenômenos naturais. Assim como o abandono da noção de causa coincide com o uso cada vez mais amplo e consciente da noção de condição (v.), também o abandono da noção de D. absoluto, paralela à primeira, coincide com a aceitação de uma forma de D. que se vai esclarecendo paralelamente ao esclarecimento do conceito de condição. Ao declarar inutilizável o conceito de causa, a física contemporânea insistiu na possibilidade de previsão provável; e ao declarar, por isso mesmo, a queda do D. absoluto, tende a adotar um D. restrito ou, como diz o próprio De Broglie, "fraco" ou "imperfeito", fundado no reconhecimento de que "nem todas as possibilidades são igualmente prováveis" e de que "todo estado de um sistema microscópico comporta certas tendências que se expressam pelas diferentes probabilidades das diversas possibilidades nele contidas" (Ibíd., p. 212). Em sentido análogo, no domínio das ciências sociais, Gurvitch falou do D. como de uma simples "contingência coerente" ou "coerência contingente", que nunca é unívoca, mas sempre se caracteriza por constituir uma situação intermediária entre os opostos do contínuo e do descontínuo, do quantitativo e do qualitativo, do heterogêneo e do homogêneo, etc. (Déterminismes sociaux, 1955, pp. 28 ss.). Portanto, a palavra D. não foi abandonada, mas sofreu uma transformação radical na linguagem científica e filosófica contemporânea. Não designa mais o ideal de causalidade necessária e de previsão infalível, mas o método de conexão condicional e de previsão provável.
(Verbete retirado do Dicionário de Filosofia de Nicola Abbagnano).
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