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FILOSOFIA: A Arte de Pensar.





A arte de pensar.


Filosofia (do grego: “amor à sabedoria”).


Representando um esforço da “mente humana consciente”, no intuito de ( por intermédio da razão) compreender a si e ao mundo (o homem e a natureza, da qual é manifestação consciente), a Filosofia - como atividade de reflexão – tem como compromisso ontológico (referente ao Ser), o aprofundamento das possibilidades existenciais do “ente humano” e seu conhecimento sobre si e sobre o mundo.

A razão, indispensável para o pensamento filosófico, pode ser definida como: capacidade lógico reflexiva da “mente consciente humana” , através da qual o ente humano pode melhor compreender os movimentos regulares e irregulares dos objetos no mundo e em seu corpo psicofísico (corpo físico e mente; a mente incluí a imaginação e memória...) ,analisar, encontrar semelhanças e diferenças entre objetos, denominá-los e defini-los conceitualmente - onde se inclui um olhar para si mesma (a mente consciente, definindo-se por meio da razão, pensando a si) . Tal capacidade manifesta-se segundo certas regras fundamentais, implícitas no desenvolvimento do ato de pensar, em linhas gerais (apresentadas de forma sintética) :


-Ligar todo particular a uma representação de universal.


Ex:

.Dedução: todo corpo material é composto por átomos > o corpo humano é material > o corpo humano é composto por átomos.


.Indução: o corpo humano material é composto por átomos < os corpos materiais de todas as espécies animais e vegetais, conhecidas, são, também, compostos por átomos < todo objeto material é composto por átomos < a matéria é composta por átomos);


-Ligar todo individual a uma representação de totalidade.

Exemplo:




.Dedução: a natureza é a totalidade que engloba a tudo que existe > Pedro existe > Pedro é parte da natureza.


.Indução: Pedro é indivíduo humano < a espécie humana é manifestação do reino animal < o reino animal é manifestação da natureza < Pedro é um animal, manifestação da natureza .

Dependendo do objeto da investigação racional, a ênfase poderá estar na dedução ou na indução, reconhecendo que uma implica na outra (na dedução está implícita a possibilidade de indução e vice versa), sendo o fim almejado o conceito (definição sobre algo) . A esses processos de raciocínio e construção de argumentação, podemos somar a "analogia" e outros recursos de análise lógica.

Outros exemplos:

-de argumento dedutivo: A natureza é a totalidade existente > tudo que existe é parte da natureza > Pedro existe > Pedro é parte da natureza.

- de argumento indutivo: Os homens são seres vivos, compostos de matéria orgânica e são mortais < os cães são seres vivos, compostos de matéria orgânica e são mortais < os gatos são seres vivos, compostos de matéria orgânica e são mortais < todo ser vivo conhecido composto de matéria orgânica é mortal < tudo que for vivo e composto de matéria orgânica é mortal.

-Ligar toda especulação teórica a referentes empíricos que, por sua vez, devem estar relacionados com outras noções conceituais conhecidas e claras na consciência, seguindo as exigências do princípio de contradição (uma coisa não pode ser e não ser ao mesmo tempo ou: A igual a A e diferente de B).


A rede conceitual que forma uma Teoria (visão sobre a realidade - sendo realidade o conjunto de fenômenos aos quais nossa consciência pode ter acesso, incluindo o que é percebido pela própria mente como sendo produto de sua cognição ativa, e de sua imaginação) é construída ou analisada por um processo de reflexão filosófica, está aberta a reformulação constante segundo a coerência da análise racional crítica, visando sempre a veracidade e coerência da teoria. Mesmo as definições sobre razão e filosofia estão abertas a re-elaboração racional demonstrando a qualidade autocrítica da razão filosófica.

Esboços de noções conceituais ( as ideias ainda não transformadas em conceitos) são moldados em um processo de comparação com a rede conceitual da qual se espera recíproco ajuste lógico. Caso essa combinação não aconteça, uma falha (sinal de incoerência lógica) é identificada no processo. A percepção do erro pode exigir a reformulação da rede de conceitos tomados como referência (todos ligados direta ou indiretamente entre si) ou uma nova elaboração mais aprofundada do que se pretende esclarecer , com as devidas correções.

O conceito de consciência ao qual atribuímos a qualidade de sujeito da atividade filosófica, pode ser descrito, sinteticamente, como: qualidade ontológica do animal humano ciente de sua própria existência e de sua própria capacidade de percepção sensível e intelectual .Ser consciente é ser capaz de perceber-se como ente, ciente de seus estados sensíveis em relação com o outro (outro semelhante; objetos; o mundo como um todo; o ambiente; fenômenos sensíveis; o próprio corpo ...). Uma das peculiaridades da “consciência humana” é sua capacidade de criar representações de “mundo”, uma representação ou imagem complexa do Universo (a natureza imaginada em sua totalidade).


Partindo desses pressupostos podemos nos referir à Fiilosofia como uma intencionalidade implícita no uso da razão. Essa arte reflexiva, identificada na história do pensamento filosófico (produto da filosofia e não a própria), na manifestação expressa do exercício racional de indivíduos dedicados a um pensamento dirigido pela mesma necessidade que a define (a Filosofia), apresentou-se, e apresenta-se, como uma ação reflexiva comprometida com o humano e dirigida à compreensão da realidade (que inclui o ente humano) e sua verdade (sendo “verdade” a correspondência lógica entre pensamento e mundo fenomênico; o que penso deve corresponder com o que percebo de forma a mais exata possível para que possa considerar algo como verídico, mas, como a percepção pode ser enganosa é necessário uma atenta e arguta observação racional ). É um fato histórico que aquilo que sempre foi qualificado como reflexão filosófica, desde os primórdios do pensamento pré-socrático, na antiga Grécia, seguiu essa intenção, embora, tenha se apresentado dentro de roupagens diversas.

As teorias são históricas , mas não a filosofia e a razão (que está na base de sua definição).

Descartando a intenção da atividade filosófica e a razão que a orienta, a Filosofia torna-se nula.

Podemos ainda falar em filosofia como: um posicionamento da consciência humana diante da realidade (conjunto de fenômenos que se apresentam ao ente humano e que se tornam objetos das definições empreendidas por sua vontade manifesta), um “estar” no mundo caracterizado pela dilatação intencional da capacidade racional, direcionada à compreensão do ser e de manifestações particulares do mundo fenomênico (vontade de saber ontológico), assim como - seguindo uma preocupação prática- um agir com fins de transformação da mesma realidade, de acordo com as possibilidades identificadas pelos trabalhos da reflexão, diante dos dados manifestos à consciência (vontade ética, política e vontade estética).


O espanto diante do aparentemente comum e banal é um impulso importante para um movimento reflexivo de caráter filosófico, um olhar de estranhamento “como se fosse a primeira vez”, é o ponto de partida da filosofia.


Amante/amigo da filosofia (filósofo: aquele que tem amor à sabedoria; amigo da sabedoria) é aquele que busca a verdade, independente da beleza ou fealdade que suas pesquisas possam revelar pelo caminho e sem render-se ao temor que inspira a grandiosidade desse projeto, comparável ao desejo de abraçar o infinito. O papel desse “estranho” na polis é espalhar a dúvida, incitar a reflexão, despertar o espanto e divulgar o conhecimento . Esse ser que aspira conhecer os fundamentos do Universo é o mesmo que, ao se deparar com aquilo que identifica como aparente falha (na Natureza) ou injustiça (nas tragicomédias humanas), se sente na obrigação de ultrapassar o erro, no esforço de construção de uma proposta Ética , ou de um sistema melhor de governo, por exemplo.


A reflexão filosófica pode ser direcionada para áreas diversas, denominadas de acordo com o objeto no qual se concentra o pensar filosófico. Assim encontramos disciplinas como: Filosofia do Ser (Ontologia); Teoria do Conhecimento; Ética; Filosofia da Arte (Estética); Filosofia Social e Política; Lógica; Filosofia da História ; Filosofia da Natureza; Antropologia Filosófica; Filosofia da Ciência; Filosofia da Religião; etc. Sem nunca perder-se a intenção do movimento reflexivo, caracteristicamente filosófico.


Aos produtos da reflexão filosófica ,sistematizada, chamamos “teorias”. As teorias não são “a filosofia” propriamente dita, pois essa é “atividade de reflexão”, mas, resultam do pensar filosófico, são históricas e abertas à crítica, podendo, porém, influenciar o pensamento filosófico em todas as áreas de sua abrangência.

Cada teoria em particular, destaca-se peculiarmente - além da formalização sistemática- , por seguir uma ou algumas ideias (hegemônicas dentro do sistema) originadas de um movimento culminante do pensamento racional da mente consciente que a expressa. Dessa forma temos algumas teorias que originaram, na história da filosofia, grandes movimentos filosóficos, muitos dos quais se estenderam para outras áreas da atividade humana (no campo político, na arte, nas ciências...), por exemplo: “O idealismo”; “O Platonismo”; “O Estoicismo”; “Epicurismo”; “Existencialismo”; “Materialismo Histórico Dialético”; “Empirismo”; “Positivismo”; “Filosofia da Vida”…




É importante destacar o papel unificador que a Filosofia exerce na condensação de saberes produzidos originariamente por ciências diversas.

Hoje alguns pensadores apostam que o futuro das ciências , cada vez mais próximas , é a revitalização da Filosofia.


Tomando o homem como um “ente em construção”, um animal dotado de uma capacidade racional, a qual muitas vezes não expressa adequadamente, e de impulsos naturais dos quais, em sua maioria, não tem conhecimento e aos quais reprime de forma ineficiente, algumas vezes desnecessária (um ente ainda muito ignorante de si mesmo, mas dotado de um forte potencial criativo), encontramos na filosofia a manifestação de uma vontade da espécie de superar a si, no reconhecimento de suas fraquezas e possibilidades criativas.


Paulo Vinícius Nascimento Coelho (professor de Filosofia na Escola Estadual de Ensino Médio Cilon Rosa em Santa Maria RS).

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