INTRODUÇÃO À FILOSOFIA (Parte 1)
Prof. Paulo Vinícius
PERÍODO PRÉ-SOCRÁTICO.
...VII________VI_______V______IV_______III_______II______I______ aC 0
dC______I_______II________III______..._________XXI (hoje)…
-Entre o final do século VII e início do século VI antes de cristo,
surge a Filosofia Ocidental no chamado mundo grego antigo (Cidades Estados
- as pólis - e colônias gregas, ao redor do Mar Mediterrâneo), sendo Tales
de Mileto considerado o primeiro filósofo que se tem registro na História.
PRÉ-SOCRÁTICOS:
Os filósofos que viveram antes de Sócrates são denominados Pré-Socráticos
(viveram antes de Sócrates e os temas de suas teorias são diferentes das características e temas de destaque do período posterior (denominado de Socrático ou Clássico/Sistemático).
Os Pré Socráticos são,
também, chamados Filósofos da Natureza (ou da Phýsis), pois, desejavam
compreender racionalmente a natureza. Outra denominação usada para
identificar esses filósofos é o termo Cosmólogos, pois acreditavam que o
Universo era um Cosmos, ou seja, ordenado racionalmente, seguindo leis
racionais, o oposto do Caos (desordem).
Os Filósofos Pré-Socráticos que
tiveram mais destaque nesse período foram:
Tales: água
Anaximandro:
àpeiron.
Anaxímenes: ar.
Pitágoras: água, fogo, terra e ar; os quatro
elementos organizados matematicamente por números.
Empédocles: água, fogo,
água e ar; os quatro elementos organizados por duas forças básicas: a
força de atração dos corpos (amor) e a forma de separação dos corpos
(ódio).
Heráclito: o Logos que mantém tudo em movimento constante de
acordo com a dialética (embate de opostos) e se manifesta materialmente na
natureza como fogo.
Parmênides: o Ser Uno e imóvel.
Demócrito: os átomos.
PRIMEIROS PASSOS DA *FILOSOFIA. (filo=amor, amizade; sofia= sabedoria).
(*É atribuído a Pitágoras de Samos (de V à IV AC) a criação da palavra
Filosofia).
A tradição de pensamento filosófico ocidental, nasce no mundo
grego antigo no final do século VII AC.
As cidades-estados gregas (pólis)
se espalhavam pelos arredores do Mar Mediterrâneo. Havia colônias gregas
no sul da Europa (onde hoje é a atual Itália), no norte da África, onde
hoje é a atual Grécia e na chamada Ásia menor (onde hoje se localiza a
Turquia), essas cidades guardavam traços comuns da cultura grega como: o
idioma, a religião politeísta e aspectos semelhantes de organização
política e social. Algumas dessas Pólis foram as primeiras sociedades
classificadas como “democráticas” da história (nesse quesito destacou-se a
cidade de Atenas).
-Algumas das Cidades Estados gregas foram importantes
centros comerciais e culturais da antiguidade, cidades cosmopolitas que
atraiam estrangeiros, pessoas de diversos povos e culturas. O intenso
movimento dessas cidades e intercâmbio cultural gerava o choque entre
valores e visões de mundo diferenciadas, o que promovia uma gradual
transformação da cultura e da mentalidade grega. Alguns indivíduos nessas
cidades demonstravam um ávido interesse por informação e compreensão da
realidade, passaram a refletir sobre as diferentes formas de interpretação
do mundo trazidas pelos visitantes estrangeiros. Nesse período da história
encontramos uma grande multiplicidade de crenças e religiões entre os
diversos povos que habitavam o que os gregos entendiam por “mundo
conhecido” da época, que abrangia terras da Europa, norte africano e Ásia
próxima, se estendendo até a Índia no extremo Oriente.
-Pensando sobre as
diversas formas de interpretação do mundo ilustradas pelos mitos
(narrativas religiosas) das religiões predominantes da época, as quais
entravam em choque no ambiente sociocultural das cidades cosmopolitas
gregas, algumas pessoas começaram a perceber que não havia critérios
consistentes para sustentar como verdade única nenhuma dessas propostas de
compreensão da realidade, reconhecendo suas limitações e óbvias apelações
à imaginação e emoção. Sendo a verdade, para esse tipo de visão de mundo
(a visão do mito) uma verdade revelada pelas divindades (ou por uma
divindade em especial), relatada em forma de metáforas e alegorias
poéticas por pessoas “especiais”, “iluminadas”, isso levantava a
necessidade da crença que levava a questão para um embate entre mitos,
reduzindo tudo à fé.
Uma simples observação rápida poderia demonstrar o
quanto era problemática a atitude religiosa dentro do contexto
apresentado, dada a impossibilidade, assumida pelo próprio posicionamento
religioso, de que deuses de tradições religiosas diversas pudessem
coexistir, disputando o governo do mundo ou o controle sobre fenômenos da
natureza.
Embora o caráter politeísta das religiões antigas pudesse abrir
a possibilidade do sincretismo religioso (visto que não era comum nessa
época atribuir a nenhuma divindade o poder de ter criado a natureza ou o
mundo, mas, sim o de intervir na natureza e no mundo), tal apenas
demonstrava a confusão e a impossibilidade de sustentar, com base no mito,
uma explicação razoável sobre o Cosmos, já que não havia critérios ou
justificativas além da própria crença, fundamentada sobre o caráter vago e
nebuloso do discurso poético e alegórico.
Um anseio por uma explicação
unitária sobre o Cosmos (Universo Ordenado), talvez, despertada pela
necessidade de busca por preservação da identidade grega, de uma cultura
espalhada pelo Mediterrâneo, em contato intenso com outras culturas e
povos, gerou a curiosidade e o “desejo de verdade” em alguns indivíduos
que seriam chamados de “os primeiros filósofos” (os Filósofos da
Natureza).
-Nas cidades-estados gregas havia uma divisão social
hierárquica que, embora, dependesse da organização política de cada cidade
independente, guardava traços comuns, como a formação de uma elite social
com direitos políticos que não podiam ser usufruídos pelo resto da
população. Os indivíduos detentores de maiores direitos e recursos podiam
se dedicar com mais tranquilidade às atividades de cunho contemplativo e
estético como a arte e observação da natureza e sociedade.
-Em uma
importante cidade grega chamada Mileto, localizada na Ásia menor (onde
hoje fica a atual Turquia) no final do século VII início do século VI aC,
viveu Tales, um indivíduo curioso e ávido por conhecimento. Tales podia,
com recursos próprios, viajar em busca de conhecimento em direção aos
lugares que na época eram vistos como “centros culturais” como o Egito e a
Mesopotâmia.
No Egito, que era ainda na época um grande império, com já
alguns milênios de história, Tales aprende a geometria (do grego geo:
terra; metria; medição), utilizada para medição de terrenos. Os
funcionários do império, a mando do faraó, faziam medições para
determinarem o valor dos impostos e estabelecerem o controle sobre a
extensão das terras, além de impedirem a confusão na reconstrução das
cercas após as cheias do Nilo…
Tales aprende, também, algumas técnicas de
engenharia e arquitetura, usadas para a construção das pirâmides e templos
egípcios. O filósofo toma lições de sacerdotes egípcios, do que era na
época um começo da Astronomia (ainda misturada à Astrologia), usada pelos
egípcios e mesopotâmicos com finalidades religiosas ou para prever épocas
benéficas para a agricultura. Tales compreende que essas técnicas
matemáticas e formas de manipulação e controle da natureza, demonstravam
que era possível supor que na natureza (phýsis) havia regularidades e que
era possível compreender a phýsis racionalmente de forma disciplinada,
criteriosa.
Usando como modelo o tipo de pensamento que aprendeu em suas
visitas ao Egito e Mesopotâmia, Tales passa a pensar racionalmente a
natureza em busca de uma explicação mais abrangente sobre a realidade.
Tales acreditava que a natureza era uma totalidade material que seguia
regularidades, chamou a natureza de phýsis (de onde deriva o termo
“física”, “físico”) e buscou na própria natureza encontrar as soluções
para questões como : “ qual a origem do mundo e da vida”, “qual a forma do
planeta Terra”, “ há uma essência da natureza?” etc.
Para Tales a essência
(ou o Ser que gera os entes) da natureza, era a água, um elemento físico
que existe em abundância no mundo e sob estados físicos diferentes
(sólido, líquido, gasoso). A água era, para Tales, a fonte da vida e
origem (Arché) de tudo na natureza, ela banha o planeta e aparece tanto
nos céus quanto em nós mesmos. Essa foi a primeira tentativa de criação de
uma teoria (visão divina) filosófica sobre a realidade, fundamentada em
observações sobre o mundo e argumentação, uma teoria que se sustentava em
hipóteses que podiam ser criticadas e estavam erigidas sobre argumentação
racional. Embora hoje tal teoria pareça ingênua, foi com Tales que a
ciência deu seus primeiros passos, visto que, antes tínhamos apenas
tentativas de uso prático da matemática e esboços de pensamento racional
não direcionados para a compreensão da natureza como um todo ou para a
construção de conhecimento independente e separado da religião.
Tales foi,
também, o primeiro grego a prever um eclipse solar com precisão e
contribuiu para o desenvolvimento do que chamamos hoje de Matemática e
Física.
-Tales foi um materialista, dado que buscava no próprio mundo
físico compreender sua origem e ordenamento, mas seu discípulo Anaximandro
levantou uma outra via para a Filosofia. Anaximandro, que também viveu em
Mileto, sustentou a hipótese de que a natureza (phýsis) tinha como
princípio gerador algo que não era material ou físico. Para ele o mundo
era originado pelo que chamava de Ápeiron, um princípio ou força
invisível, ilimitado, infinito, indefinido e eterno, que gerava a
natureza, sendo a essência do mundo (o Ser). Muito provavelmente,
Anaximandro tenha assumido essa teoria ao observar que as regularidades na
natureza poderiam ser entendidas como leis, e são leis não palpáveis, ou
seja, não podemos tocar ou ver tais leis, apenas percebemos o que elas
geram na natureza. Da mesma forma o pensamento parece ser “não material”.
Anaximandro tinha, também, uma teoria sobre a evolução das espécies onde
dizia que: a vida teria surgido em meio úmido, na água os peixes teriam se
desenvolvido e deles surgiram com o tempo os anfíbios, da evolução dos
anfíbios surgem répteis, depois os mamíferos e entre esses o homem. É
considerado o pai da Geografia, tendo desenhado diversos mapas sobre o
“mundo conhecido” da época.
-Retomando a linha de pensamento de Tales,
sobre a essência material da phýsis, outro aluno da escola de Mileto,
Anaxímenes, diz que é o ”ar” a essência da natureza, algo material, porém,
invisível a olho nu, que anima (ânimus) os corpos vivos.
Continua...
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Vocabulário Básico:
Realidade: tudo o que existe e envolve a mente humana, incluindo a
própria mente. A realidade está aí para ser interpretada e compreendida
pela Filosofia, na tentativa de vencer as barreiras das limitações
sensoriais, cognitivas e subjetivas, impostas à nossa qualidade de ente
consciente. A Filosofia pretende compreender racionalmente a realidade em
sua totalidade, as ciências (derivadas da filosofia) buscam compreender
aspectos da realidade de acordo com os objetos de estudo que as definem
(cada ciência particular tem um objeto de estudo específico).
Razão: qualidade da mente humana consciente, que lhe permite
decodificar, separar, qualificar, denominar e organizar as informações e
dados que pode captar do mundo e sobre si mesma, por intermédio da
percepção sensorial. A razão pode construir conceitos, definições sobre as
coisas percebidas pela mente, é a ferramenta básica do pensamento de cunho
racional e pode ser usada para construção de teorias ou para atender
necessidades práticas que exijam uma orientação refletida da inteligência
empírica (nossos sentidos).
Ser (Onto): essência da natureza-universo, que, dependendo da
teoria filosófica, possui características e qualidades diferentes; é o
princípio que gera os entes, as coisas do mundo e a natureza como um todo.
A Ontologia é o ramo da Filosofia que estuda o Ser.
Ente: são as coisas e seres gerados pelo Ser; nós somos entes,
pois, não podemos gerar a nós mesmos, surgimos em meio a um universo já
existente. Ente é todo existente que tem uma existência individual, uma
identidade própria ou um fenômeno tomado em particular que subsiste por
si.
Fenômeno: tudo o que aparece para a percepção humana, tudo o que se
manifesta para nós, incluindo nossos próprios corpos e mentes. Empírico:
tudo o que é de natureza material ou física e que pode ser percebido por
nossos sentidos.
Phýsis: Natureza; mundo físico material. Cosmos: Universo ordenado.
Arché: origem; princípio primordial; o Ser.
Importante:
Para os gregos antigos o homem (anthropos: o animal que está em lugar mais
elevado) estava integrado à Natureza, era mais uma espécie animal no seio
da natureza (phýsis) diferenciando-se das demais por sua capacidade
racional mais apurada e, por esse motivo, deveria desenvolver, da melhor
forma possível, essa qualidade que o caracteriza como humano; essa é uma
visão diferente da visão preconizada pela tradição judaico-cristã que
entende a natureza como algo diferente do homem, sendo a espécie humana
imagem e semelhança de um deus que criou as demais espécies para servirem
ao homem e serem por ele governadas, o que, certamente, influencia em
muito a forma agressiva e predatória como tratamos, já há algum tempo, as
demais espécies vivas no planeta (em especial no caso das sociedades
ocidentais onde predomina o cristianismo).
-Toda Ciência tem como fundamentação epistemológica uma teoria
filosófica.
.As ciências buscam compreender e ou interpretar aspectos da
realidade, direcionando pesquisas e pensamento racional sobre os objetos
de estudo que as definem. O que é a realidade? Essa é uma questão
filosófica.
.As ciências buscam construir conhecimento racional sobre seus
objetos de estudo. O que é razão? Como conhecemos a realidade? O que é
verdade? Há leis da natureza? Podemos realmente decifrar racionalmente a
natureza? O que é conhecimento? Essas são questões filosóficas
fundamentais.
.Quem produz conhecimento é a mente humana. O que é a mente
humana e como ela compreende a si mesma e ao mundo circundante? O que é o
intelecto? Como funciona a estrutura cognitiva da mente humana? Qual a
relação entre mente e corpo(cérebro)? Mais questões filosóficas básicas,
importantíssimas para toda e qualquer Ciência. O próprio conceito de
Ciência é filosófico.
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